quarta-feira, 3 de junho de 2009

O poder do Coelhinho

Ela cabia na minha mão quando chegou em casa.
Uma legítima bolinha de pêlos.
Foi amor à primeira vista.
O moço tinha colocado um coelhinho branco nos meus braços, mas quando eu olhei pra dentro do lugar de onde ela estava, com mais inúmeros coelhinhos, não resisti.
-Quero aquele! 
Apontei para ela, pequenininha, sobre um pote de ração maior do que ela mesma. Comendo, na maior delicadeza.
-É uma fêmea - ele disse - Você deu sorte, pois hoje cedo quase que um casal a levou embora.
Ele a colocou em uma caixa. Compramos a gaiola, o comedouro, o bebedouro e as serragens.
No carro eu a segurei como se segura algo frágil e precioso. Afinal, era isso que ela sempre foi, e continua sendo: algo frágil e precioso.
Eu estava numa época difícil. Tinha acabado de terminar um namoro que havia me feito muito mal, na mesma semana, meu hamster havia morrido (pode parecer cômico por ser um hamster, mas eu era apegada a ele, aliás, sou capaz de me apegar até à uma lagartixa) e eu tinha ido parar no hospital por conta de uma das crises de síndrome do pânico. Fiquei uma semana inteira dentro de casa entre a loucura e a depressão.
Foi quando entrei na cozinha com a pior cara possível, e minha mãe, meio preocupada e meio penalizada, me perguntou:
-Existe algo que eu possa fazer para que você se sinta um pouco melhor?
-Sim. Eu quero um bichinho. - respondi sem pensar duas vezes.
Eu sempre soube que ter um bichinho dentro de uma casa era capaz de mudar os ânimos de qualquer um, fora as inúmeras pesquisas que já li sobre cura através do carinho dos animais, mas não era nisso que eu me apegava não, era no simples fato de saber que a única coisa que poderia me fazer sentir melhor, era me apegar a um bichinho novamente, justamente pela minha paixão e amor incondicional aos animais.
Minha mãe nunca quis ter cachorro. Não por não gostar, mas por gostar demais! Minha mãe sempre tentou "buscar o equilíbrio" e não tentar se apegar tanto às coisas, e ela no fundo sabe que um cachorro é talvez o único ser que pode nos quebrar as pernas completamente neste sentido. Talvez seja possível raciocinar em cima de um sentimento por uma pessoa, talvez com muita força seja possível controlá-lo, utilizando a nossa parte racional. Mas com um cachorro isso é impossível. Somos capazes de amá-lo em questão de segundos e dar nossa vida por ele sem pestanejar. É um amor que chega a doer. É uma inocência e ternura que nos atinge em cheio e nos faz conhecer um pedacinho daquele amor de verdade que a gente sempre escutou falar.
Por este fato de saber que seria inviável a presença de um cachorro em casa, comecei a pesquisar na internet sobre bichinhos peludos que eu poderia ao menos pegar no colo. Estava quase decidida a comprar um furão, se não fosse o pequeno detalhe de que eles custam os dois olhos da cara.
Então pensei numa chinchila.
Fomos todos ao Cobasi naquele fim de semana atrás de uma chinchila então.
Ao chegarmos lá, perguntamos à um dos funcionários se eles tinham alguma chinchila disponível para venda.
Ele pediu para que nós o seguíssemos e nos levou até uma gaiola gigante onde no cantinho, com olhar de assustada, uma chinchila observava o movimento.
Quando ele abriu a gaiola para pegá-la e direcionou suas duas mãos em sua direção, ela correu feito um raio, mostrando a mim e à minha família que seria impossível ficar mais de 1 minuto e meio com ela no colo. De que adianta ter um bicho se não é possível estabelecer um mínimo de contato com ele?
-Esquece. Nem adianta, moço. Se não dá pra pegar eu não quero.
-Você não tem nenhum bicho que goste de colo por aqui,? - perguntou meu pai, outro maluco por bichos.
-Bom, temos porquinhos da índia e...mini coelhinhos.
-Mini coelhinhos? - me interessei.
-Sim. Eles são mini porque não crescem mais do que 25 centímetros e gostam de colo.
Bom, o resto eu já contei lá em cima, fui levada para um local povoado de coelhinhos macios e fofinhos e me apaixonei pela Gordura.
Chegamos em casa, a colocamos no chão e nos transformamos em verdadeiros babacas vendo-a dar pulinhos e saltinhos, balançando as ainda pequenas orelhinhas.
Um festival de "Oooohhhh!!!!" "Owwwnnnn!!! " "Aaaaaaaaahhhhh!!!" tomou conta da casa a cada movimento que a coelhinha fazia.
Minha mãe estava ferrada, já estava ficando completamente rendida aos charmes da pequena bolinha.
Então ficamos horas tentando pensar num nome à altura para tamanha coisinha gostosa. Primeiro foi Petit, depois Lepetise, depois Margarida, depois Cláudia, depois Suellen e depois finalmente: "Gorda!"
Afinal, nenhum nome a descreveria tão bem!
Gorda! Que deu margem à inúmeros apelidos, como: Gorducha, Gordura, Gordurão, Agordurado, Engorduragem, Desgordúrio, Disgo (de Desgordúrio) e outros como Bola Peluda, Coração Peludo, Pelentine, Apelarado, Dispeleiro.
E acreditem, fica muito engraçado chamar uma coisinha pequena e inocente de "Desgordúrio" ou "Gordurão".
Depois daqueles dias começamos então o processo de adaptação. Gordura foi criando uma personalidade única e invocadinha, nos provando ser mais inteligente do que poderíamos supor.
Jamais imaginávamos que um coelho era capaz de entender um "não" quando se trata de entrar na cozinha. Jamais imaginávamos que um coelho batia na porta com as patas em busca de carinho. Jamais imaginávamos que um coelho rosnava! Jamais imaginávamos que um coelho pode correr atrás da gente quando a gente chama.
Neste 1 ano e meio que estamos com ela, ela já destruiu cerca de 4 rodos, 2 fios de impressora, 3 chinelos, 1 vassoura, 1 fio de mouse, entre outras coisas.
Ela também tem humor. Quando não quer que pega, rosna e fica séria. Mas quando quer carinho, pula no colo e lambe nossa mão e rosto como um cachorrinho. Isso também é outra coisa, jamais poderíamos imaginar que um coelho era capaz de lamber feito cachorrinho.
A Gorda se tornou tão inerente à família, que hoje em dia não conseguimos imaginar a casa sem ela.
Minha mãe tem verdadeira paixão por ela, meu pai nem se fala. No celular dele, quando alguém de casa liga, aparece a foto da coelha.
E quantas vezes já passamos o tempo tirando várias fotos da Gorda em todas as posições.
Percebemos que em todas as vezes que a embrulhávamos num pano e a segurávamos de barriga pra cima feito um bebê, ela mordia o paninho e não soltava, como se fosse uma chupeta. 
Foi nessa brincadeira que minha mãe criou uma chupeta vermelha de feltro pra ela. Bastava deitá-la no colo e colocar a chupeta de pano que ela
E isso era a maior atração para visistas: temos uma coelha que chupa chupeta!
Quando meus pais viajam, uma das primeiras perguntas é sobre ela: Ela está bem? Você deu cenoura? Ela não está com frio?
Hoje posso dizer que a Gorda me ajudou sim a esquecer algumas das coisas que eu queria esquecer, e trouxe mais alegria para toda a casa. Já amenizou climas ruins por causa de briga, já trouxe conforto em momentos críticos e até já nos esquentou em dias de frio.
Às vezes não precisamos de palavras, telefonemas, e-mails. Às vezes não precisamos desabafar.
Às vezes a única coisa que a gente precisa é do silêncio de um ser inocente cuja única serventia (a mais preciosa que existe) é nos ensinar sobre amor. E nos dar amor.




9 Comments:

Mulher do Padeiro said...

Que texto mais fofo... eu tenho uma coelha - a Beatriz - que é o bicho mais arisco e cruel que existe, não rola carinho de jeito nenhum, ela morde e arranha igual a um gato raivoso!!! Menina de sorte com a sua Gordura!!

Thaís SBA said...

É, mas não pense que tudo são flores, já levei altas mordidas que me renderam algumas gotas de sangue e doeram pra K*****

Hhasushuas! ^^

Thais said...

hahaha q fofureza!!!!! ela é muito linda mesmo!!!ainda mais mordendo o lençol hahaha

bjo

Tha Basile said...

uauahuahauaha
gente, to dando tilt! eu quero esse coelho PRA MIM!!!!!!!

Messias said...

ahahaha altasa histórias dessa coelhinha! Bom, mas isso foi no tempo em que Thais SBA entrava no MSN! ...

beijos do gordo!

Thaty said...

são os melhores amigos, os considerados 'irracionais'.

Anônimo said...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Thaís SBA said...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ju said...

Que fofo! O texto e a sua coelha.
Bjs