sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Bicho preguiça alta, morena, 27 anos.

Levanto. 9h55, com o telefone. Deixo tocando.
Era o Rô. Ligo, rio, falo. Desligo.
Mando mensagem pro meu gato.
Escovo os dentes ligando a TV.
Olho pra baixo, tiro um cabelão do chão.
Volto pro banheiro, passo creme no rosto. Prendo o cabelo. Xixi.
Cozinha. Como uvas. Olho pro chocolate. Ignoro. Olho pra cortina.
Um ano e meio sem lavar, é hoje. Tiro ela, caio com ela. Levanto. Jogo ela na máquina.
Mudo o dia do calendário Seicho No Ie.
Abro a internet no computador. Gmail, Uol, Te dou um dado, Estadão, Chá, Orkut.
Ligo pra mãe, ajuda teórica com o jantar pra galera na sexta.
Tem colação à noite. Imagino a roupa que vou.Bebo água.
Lavo a louça de ontem. Ponho a roupa de ginástica.
Dançinha ao som de Madonna no computador.
Como uma sopa e um pedaço de queijo. Escovo os dentes.
Atendo o telefone. Gato.
Dentista. Um boca anestesiada e dois dentes mais bonitos.
Carro, rumo ao Ceret. Mensagem pra ele. Ando em ritmo acelerado.
Cheiro de mato. Chuva começa. Não corro, aproveito.
Casa. Banho. Coloco a cortina de volta. Sem cair.
Tento comer mais uvas. Mordo a boca que está anestesiada. Xingo.
Olho pra TV. Não ligo. Pego o livro. Abro na página e leio.
Penso em como serão as aulas que começam na segunda. Desencano.
Tiro o peixe do freezer. Xixi.
Escrevo um textinho pro Chá. Básico, não dá pra exigir. Tô de férias.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

I wanna be Free-La.

Não tenho pós graduação, não fiz bacharelado e nem licenciatura. Faço 24 anos no fim do mês. Me formei como tecnóloga há dois anos atrás, ou três. Acho que são três. Isso mesmo, aquela faculdade de dois anos. Era pra ser quatro mas na metade do curso enjoei e pude me formar como tecnóloga no fim dos dois últimos anos.
24 anos.
Já.
(Quanto número logo no começo do texto).
E quando eu tinha quinze, achava que com vinte eu já estaria casada ou não, mas pelo menos teria uma casa própria. Já deu pra perceber que esse é um daqueles textos tepeêmicos e de desabafo...Mentira, não é tepeêmico, mas é de desabafo.
Não sou super bem sucedida não, na verdade minha conta quase sempre está no negativo e eu não consigo juntar nada porque eu to sempre pagando a fatura do cartão de crédito. E eu não sei usar o cartão de crédito, eu o abomino, mas ele corre atrás de mim como uma criança corre atrás dum gato para puxar-lhe o rabo e rir. Uma criança má. E é isso que o cartão de crédito é para mim: uma criança má.
E eu, uma mãe que sabe que ele é perverso mas ainda assim não sabe lhe dizer não.
Eu não tenho casa própria e nem meu diploma ainda fui buscar na faculdade, só estou com o certificado, quer dizer, acho que estou. Guardei com uns documentos. Sou meio largada para um monte de coisas.
Trabalho com edição de vídeo, se alguém precisar de uns freelas, fala comigo, eu trabalho com o Avid Liquid 7, e minhas edições modéstia a parte, são foda. Então me ajude a juntar uma grana pra minha casa própria e me peçam milhões de vídeos. Faço vídeos para festa infantil, casamento, TCC, homenagens para namorados, bobagens, qualquer merda, mas me peçam vídeos.
Bom, não vim aqui pra ficar me promovendo, embora eu tenha acabado de fazer isso. Resolvi escrever pra desabafar. Mas to vendo que esse texto tá virando um tremendo marketing pessoal. Aliás, um marketing pessoal bem negativo porque até agora não citei uma qualidade minha. Mas conforme eu disse, quando comecei a escrever, a intenção era mesmo falar um pouco de mim...mas freelas estão inclusos nisso, fazer o que.

Eu não sou registrada e nunca saí do país, deixei de ir pra Europa porque achei que o avião seria um tédio e porque eu preferi ficar em casa sozinha, e por causa do meu namorado. Sim, eu fiquei por causa dele também e não me envergonho de dizer isso. Na verdade pau no cú da Europa, eu to é doida pra conhecer os Lençóis Maranhenses, e mesmo que ninguém me ajude pedindo freelas, sei que ainda assim vai dar pra eu ir pra lá ainda esse ano com o homem que eu amo. E mais uma vez o cartão de crédito vai me ajudar / afogar / foder/ divertir, mas desta vez vai valer a pena.
Olha na verdade eu realmente acho que a Eurupa deve ser linda, mas sei lá, não é meu sonho de consumo, saca? Meu sonho de consumo é um golden retriever. Se alguém me disser: 15 dias na Europa com tudo pago ou um golden retriever? Pensa rápido!
Um golden retriever! Óbvio.
Nada como um ser provido de focinho e quatro patas para dar mais sentido à vida.

Eu me distraio com cachorros pelas ruas, esqueço do caminho que eu tô fazendo só para acariciar o focinho.
Eu ainda não tenho carta, mas acreditem, não deu pra pagar antes, e só vou começar minhas aulas práticas no fim do mês porque eu ganhei a matrícula no ano passado. Sim, demorei 1 ano para concretizar isso.
Passei na teórica do Detran na metade de 2008 mas a preguiça e o trabalho me impediram de fazer as aulas práticas antes.
Eu definitivamente sou preguiçosa, mas como boa DDA sou muito bem acordada e disposta para o que me interessa e na hora que me interessa. (Talvez eu diga isso porque eu não tenho uma mãe internada na UTI e doze filhos pra criar).
Não gozo fazendo minhas obrigações e nem tenho orgasmos em ter oportunidades que o mundo todo gostaria de ter. Na verdade eu queria muitas coisas mas nunca segui caminho nenhum. Fiquei empolgada com vários e não decidi por nenhum.

Eu tinha vontade de uma coisa, ia lá, dava meu sangue, conseguia e depois perdia a graça.
Eu não duvido da minha capacidade de conseguir o que eu quero, eu consegui tudo o que eu queria. Eu quis ser atriz, fui. Quis ser redatora, fui. Quis cantar numa banda, fui. Quis tosar cachorros, fui. Quis entrar na FAAP, entrei. Quis entrar em Teatro na Anhembi, entrei. Quis desistir de teatro, desisti. Quis prestar publicidade, passei. Quis estudar no Wolf Maya, estudei. Quis entar numa agencia de modelos para fazer comerciais, passei na entrevista mas depois desisti de novo porque no mesmo dia descobri que não queria isso.
Enrolei, enrolei, tanto fiz, tanto fiz e não fiz bosta nenhuma. Sempre tinha alguma coisa, eu sempre desanimava. Só ano passado eu quis ser atriz, quis prestar FUVEST pra pedagogia depois desisti na mesma semana e quis prestar Letras. Me inscrevi no cursinho, mas depois de 1 mês cancelei a matrícula porque na verdade não era isso ainda que eu tava buscando entre outras coisas, além do que jamais daria tempo de eu voltar pra casa, e eu não ia aguentar a pauleira de ter que trabalhar no dia seguinte. Foi-se o tempo em que eu estudava à noite e acordava às 6 da manhã para ser esmagada no metrô e chegar toda amassada no trabalho. São Paulo, sentido Barra Funda, 6:30 da manhão, metrô Brás. Se você acha que o inferno é vermelho e tem fogo e capetinhas, você ainda não pegou o metrô nesse horário no sentido Barra Funda em São Paulo. Quando você fizer isso, passará a crer que o inferno deve até ser um lugar legal para passar os finais de semana, relaxar, apreciar a vista.

Até hoje eu não sei direito o sentido disso aqui e às vezes eu queria mesmo ser como essas pessoas super independentes que dirigem e guardam uma grana para seus futuros, e são reconhecidas na empresa, e falam com seus chefes e são olhadas com seriedade.
Às vezes eu até queria, algumas vezes eu realmente não queria, mas não ia dar certo, não sou eu. Eu ia gaguejar ou ia xingar no primeiro esporro, eu ia esquecer as coisas, eu sempre esqueço as coisas, tropeço em coisas, bagunço tudo. E eu fazendo tarefas simples ajo como um hipopótamo com parkinson. Não dá certo.

Talvez eu tenha me acomodado, talvez eu chegue aos 90 anos e não tenha saído dessa, talvez eu nem tenha uma perspectiva, porque eu sempre estou lotada de perspectivas que não me levam a lugar algum.

Isso é uma bosta. E eu sei que tenho talento pra uma porrada de coisas, mas eu nunca sei por onde começar.
Nem pra fazer meu portfólio eu tenho saco. Separei uns DVD's com uma penca de edições pra criar um site pra mim mas já faz mais de uma semana que eu nem fui atrás pra registrar nada. Meu irmão já disse que me faz o site e eu sempre esqueço, fico escrevendo bobagens, lixando as unhas ou entrando na merda do meu orkut que não serve pra nada, mas que eu sempre entro.

Me sinto como uma bolha vagando no Universo. Eu não to fazendo nada pra essa merda toda melhorar, eu tento não piorar as coisas mas também não melhoro nada. Eu curto viver e acho lindo o mundo todo mesmo sabendo que o mundo todo tá se fudendo na merda. Eu escrevo algumas poesias legais e sinceramente, acho que isso é a única coisa útil que eu faço. Aliás, nem útil é porque quase ninguém lê. E quase ninguém lê porque eu quase não divulgo. E eu quase não divulgo porque sou ciumenta e não registrei nos direitos autorais.

A única coisa que terminei na vida foi um curso de telemarketing, um livro que escrevi quando tinha 15 anos (já comecei vários nunca terminei, ÓBVIO), meu superior de tecnóloga em Gestão de Comunicação Empresarial e...o ensino médio.

Aí fico pensando aqui no motivo de eu existir. Aí eu faço essa relação minha e de pessoas que dirigem e tem suas vidas fantásticas e aí eu penso que elas também estão existindo que nem eu, mas apenas com um pouco mais de "sorte" por terem se decidido e se dado tão bem na vida.

Mas todo mundo aqui tá existindo.
Mas poxa, como eu queria existir com mais dinheiro. Como eu queria existir com o meu registro na carteira...ê buceta. Como eu queria ser decidida.

Queria existir com uma tatuagem enorme nas costas, queria existir mais gordinha, queria existir sem meu dente estar torto, queria existir com o cabelo azul mas eu jamais poderia trabalhar de cabelo azul.

E eu que dizia que adorava ser eu, parece que tô me contradizendo.

A questão é que eu adoro ser eu, mas eu queria ser eu mas com tudo isso aí, saca?
Tava bom, meu registro, minha grana guardada, a entrada na casa. Tava ótimo. tava ótimo se eu tivesse controle de algumas coisas, tava ótimo se eu confiasse mais em mim. E confiar é diferente de acreditar. Eu queria ter acerteza de que se eu vou escolher uma coisa, é essa coisa que eu vou fazer. Mas eu mudo de opinião porque às vezes tenho mania de liberdade e se eu não tenho mais certeza de alguma coisa, isso me sufoca e eu odeio ter que continuar fazendo.

Eu sou só uma menina bagunçada, bagunceira. Às vezes pode parecer que sou cruel com alguns comentários que faço, mas é porque acho graça de tudo, principalmente das pessoas, de mim. Mas no fundo meu coração é mais derretido do que sonho de valsa dentro da bolsa num dia de calor. Morro de peso na consciência por tudo e por mais difícil que seja de acreditar, eu sempre tento ver o lado bom das pessoas porque acho injusto não tentar ver, embora é claro, não pareça em muito do escrevo. Mas não sou mentirosa. Principalmente comigo. Não escondo nada de mim, e isso custa caro, mas não custa meu caráter e nem minha ilusão, o que já está ótimo. Acho que todo mundo merece uma chance, embora existam pessoas que já tiveram suas chances e disperdiçaram.

Tenho gastrite. Tenho uma coelha peluda que rosna. Uma mãe com quem vivo brigando mas que decidiu não brigar comigo este ano. Até agora está dando certo, esses dias a gente até conseguiu ficar mais de três horas juntas e nem sequer gritamos uma com a outra. Progresso! Algumas pessoas já me disseram para eu não ligar para essas brigas, mas eu ligo, eu sempre ligo. Eu não suporto brigas com a minha mãe. Eu queria na verdade é que ela fosse a mulher com quem mais eu me desse bem.

Tenho um irmão superdotado (sem piadas) que aprendeu a ler com 3 anos de idade e sozinho. Ele tem síndrome de asperger. Não me perguntem, tô com preguiça de responder, joguem no google.

Ele teve câncer com 16 anos e talvez esse seja um dos motivos que me fazem odiar o cigarro e ver pessoas foderem com suas vidas sendo que tantas outras lutam por ela.

Odeio que pichem, que sujem as ruas, que maltratem animais, mas ainda assim eu como carne, com um terrível peso na consciência. Não tenho força de vontade para parar de comê-las, bois são uma graça mas ninguém mandou serem tão bons.

Não falei aqui do meu pai. Meu pai é foda, mas já briguei muito com ele também. Minha mãe é linda, tem rosto de boneca, e minha vó Lola é meu anjo da guarda e me ensina muito sobre a vida só dela respirar e elogiar uma planta.

Meu namorado me tirou tudo de triste que existia em mim, e ele tem um cheiro que é uma delícia. E tem um bigode que eu adoro, e cabelos compridos que eu adoro prender e pentear.

A mãe de uma "amiga" este ano me disse que eu sou destrambelhada absolutamente do nada e que ela não gostaria de ser minha mãe. Eu tive vontade de estourar a cara dela porque ela não me conhece de verdade e eu não sou destrambelhada eu sou só um pouco indecisa, mas aguento trancos muito melhor do que muita gente. Destrambelhada é ela que um dia quase arrancou tiras de carne das costas da filha numa briga. Destrambelhada é ela que é policial. Quer destrambelho maior nos dias de hoje? Desculpa, sei que nem todo mundo é igual, mas destrambelhada é VOCÊ sua inchada!

(Só pra desabafar um pouco.)

Sei lá, parte de mim isso isso aí...tô em busca de algo ou de nada, eu não sei.
A única coisa que sei é que...

Preciso de freelas.

Preciso de freelas pra juntar uma grana para casar e ter bebês.

E eu prometo não desistir de nenhum vídeo que me passarem, eu preciso dessa grana, cacete. Eu tô até conseguindo me desafogar sabe, fiquei até orgulhosa porque não tenho mais gastado que nem antes. Mas quero freelas.

Bom, é isso. Tô com dor no pescoço, to escrevendo deitada e tô sebosa, vou tomar um banho porque tá tarde.

Boa noite.

Ou boa tarde. Ou se lá.

Ou foda-se.

Perdão, não se foda não, vai que você precise de um editor freela um dia, não é, leitorzinho fofinho, bonitinho?

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Censura

A menina estava lá, dentro do restaurante tailandês chique do hotel, pulando e rodando, de braços abertos e olhando pro teto. Ela era criança e ninguém estava dando a mínima, com exceção de mim e da minha inveja adulta, claro. Era permitido a ela se mostrar feliz daquela maneira, porque ela estava com a mãe, com o que pareceu ser uma amiga da mãe e com seu irmãozinho, prestes a comemorar uma noite mágica de Ano Novo ao redor da piscina de 2 km de comprimento, iluminada e enfeitada, com música e diversão, junto daquelas pessoas que faziam fila para ir ao bar pegar uma bebida randomicamente. A mim, só fora permitido dar esses pulos num imenso jardim onde poucas pessoas me olhavam, perto da praia, bem descontraidamente, ao chegar nesse lugar mágico.

E eu só a observava. Dois dias depois, mal sabia que eu teria que me conter dentro de um surto que seria completamente justificado, se tivesse acontecido: um senhor mexicano, com o nariz sangrando, decidiu, no meio de uma multidão em um local turístico, não utilizar um lenço de papel. Ele jogou três pingos de sangue no MEU braço. Não me perguntem o motivo. Não pude fazer o que eu queria, que era dar um soco na cara dele gritando coisas que ele merecia ouvir, depois chamar a polícia e logo depois ir me lavar. Tive que me contentar em ficar dez minutos procurando um banheiro pra me lavar, enquanto ele se perdia na multidão. E logo depois não poder chorar de medo de pegar qualquer doença - medo esse injustificado porque meu braço estava intacto, me disseram as amigas profissionais de saúde - porque eu já disse, era injustificado. Aquele homem tosco quis me mostrar que não existe perfeição nem dentro da perfeição. E a vida continuou.

Aqui atrás do computador, onde eu passo 90% do tempo da minha vida, longe de São Paulo e da civilização, eliminaram completamente qualquer contato via internet com o mundo pessoal das pessoas (sim). Eles tratam a regra pela exceção: ao invés de punir quem passa o dia inteiro em sites e não trabalha, eles punem a grande maioria que só quer trocar três emails por dia com quem quer que seja que não pertence a esse mundo. Censura, mesmo que justificada por um contratinho onde se lê: política de uso da internet.

E eu fiquei pensando em todas as situações onde a gente se barra, se impede. De reagir, de ousar, de ser diferente. Isso tudo é uma ilusão e a gente está completamente adaptado a ela, com as nossas pseudo regras de comportamento e de convivência social. Não estou falando de leis, de organização pública, estou falando do que silenciosamente criamos pra nossas vidas. Vocês me diriam que o caos se instalaria, sem essas regrinhas. Eu responderia que a gente já vive num caos, físico e emocional, privado e público. Alguém discorda?

sábado, 3 de janeiro de 2009

A Menina e o Leão

Era uma vez uma garotinha que andava pelo deserto regando flores.
Sim, mesmo sendo deserto, era um deserto que tinha flores.
Encontrou algumas flores que tinham espinhos, e que a machucavam, mas ela parecia não se importar.
De fato, não se importava, achava aquilo até normal. Estava acostumada. Queria mesmo era regar as flores e replantá-las em vasinhos para enfeitar sua vida. Certa vez viu que um dos cortes feito pelos espinhos de uma flor, começou a inflamar demais a sua mão. Sangrou, fez ferida, ela chorou, mas ainda assim não conseguiu se desvencilhar da flor, por gostar dela demais. Deixou-a lá, e quanto mais sangrava, mais ela tocava na flor, pois pensava não ser culpa dela, afinal, ela havia nascido com aqueles espinhos.

Até que um dia percebeu que aquela flor era viva, e a havia machucado propositalmente, como quem dissesse: "eu não quero enfeitar a sua vida, me deixa em paz, eu não quero enfeitar nada, eu não quero que você cuide de mim. Quero secar e morrer sozinha." Foi quando suas pétalas começaram a cair e a linda flor foi se transformando numa navalha feia e enferrujada. Era apenas um disfarce para que pudesse machucar a garotinha.
Quando ela percebeu, ficou tão triste, mas tão triste, que jurou nunca mais cuidar de flor alguma e nunca mais visitar algum jardim. Saberia muito bem viver sem passear por lugares floridos. Não precisava de flores para saber que a vida é bonita.

Depois daquilo, ainda assim encontrou algumas no caminho, querendo ser cuidadas por ela, mas ela já não se importava e de certa forma estava feliz por ver que seus cortes já não doíam mais. Por mais que gostasse de algumas flores, não se importava em não tê-las por perto, além do que, nenhuma delas era especial o suficiente para que ela a incluísse em sua vida. O tempo foi passando e ela estava feliz, e decidida a nunca mais se dedicar à flor alguma. Foi quando um dia tropeçou em algo no meio do deserto. Algo grande e macio. Agachou, examinou e percebeu que era uma flor diferente. Era uma flor macia! E quando viu aquela flor tão diferente, ficou intrigada.Não queria novamente dar sua vida para cuidar de uma nova flor, mas aquela flor a instigava por ser muito diferente das outras.

Examinou bem aquela espécie e passou os dedos por entre as pétalas esquisitas e jamais vistas antes. Foi quando a flor começou a se mexer e virou sua cabeça para cima revelando um olhar sério e um focinho.A menina deu um pulo e morrendo de medo, ficou encarando aquilo que ela não sabia bem o que era.A flor foi acordando sonolenta e se levantando, mostrando ser na verdade um lindo Leão.Não era uma flor, era um pequeno Leãozinho que adormecia com parte do corpo enterrado nas areias do deserto. E as "pétalas macias" eram apenas a sua juba.


A menina não sabia se corria, se chorava ou se continuava ali admirando aquele Leão tão bonito mas ao mesmo tempo tão bravo aparentemente. Foi quando os olhos do Leão a olharam docemente e todo seu semblante sério desapereceu revelando um sorriso doce e um jeito pidão de quem quer colo.
Tomada pela segurança daquele olhar, aproximou-se e acariciou sua juba, outrora confundida com pétalas, e o Leão derreteu-se tal qual um gatinho que ansiava por um carinho que jamais imaginou ter. A partir daquele dia, a menina e o Leão nunca mais se separaram. Ela cuidava do Leão como quem cuida do que há de mais precioso na vida, e ele a protegia e amava como quem sabe e conhece o amor de verdade.Com suas lambidas, o Leão foi cicatrizando as feridas da garota e em poucos dias sua pele estava tão lisinha que parecia que jamais alguma rosa a havia machucado.

Engraçado como algumas coisas acontecem na vida e como elas nos aparecem de forma inusitada.
Nessa história a garota aprendeu uma lição muito valiosa, embora tenha lhe custado feridas e arranhões.
Aprendeu que existem muitas flores por aí, de diferentes formas e origens, mas todas são flores. Mas Leão que lhe protege, ama e não fere, só existe um, que por sua sorte foi parar bem no meio de seu caminho, e embora ela o entitule "Leãozinho", sabe que ele de "inho" não tem nada, pois é grande o suficiente para ocupar hoje não só seus caminhos...

Mas toda a sua vida...


Para sempre.