segunda-feira, 18 de maio de 2009

A Melissa assassina devoradora de pés.

O que me fez pensar que um tênis de 10 reais não ia foder com meu pé?
" Olha só, um tênis xadrez! Eu estava querendo um tênis xadrez! Ui! 10 reais!!!!! Não acredito! É quase um insulto não levá-lo!"
E lá fui eu toda feliz com um par de tênis xadrez por 10 reais. E não era usado, era novinho! Queima de estoque na loja Alegria da Tuiuti!
Realmente, um tênis fofo xadrez por 10 reais é quase um insulto não levar, posso até não usar nos pés mas posso deixar de enfeite no quarto, já que ele está começando a triturar minha pele.
Mas ainda assim, tem coisas baratas que não se recusa! 

Tipo, não que eu tenha compulsão por coisas podres e baratas, sabe, mas é que eu me iludo com a aparência delas.
Mas também não é tudo que é caro que vale a pena.Por exemplo, uma amiga minha que amo de paixão me deu de presente uma Melissa original de veludo LINDA que eu estava querendo a dois anos. Quase tive um orgasmo quando me vi no espelho com ela! E quando usei a primeira vez, a Melissa mostrou-se ser um alienígena do mal devorador de pés. Se eu fiquei com 8 bolhas e feridas em cada pé foi pouco. Tive que usar chinelos e rasteirinhas por 2 dias seguidos, pois qualquer coisa que encostava no meu pé, doía.

Eu cheguei a colocar fita crepes e band-aids por cima diversas vezes, e ainda assim, a Melissa assassina conseguiu se infiltrar em meio às bandagens e continuou seu trabalho de cavocar minha pele. Tenho certeza que seu objetivo era chegar em meu osso, mas antes que isso pudesse acontecer eu cheguei em casa e as removi.
Penei quando tomei a decisão de dá-la para alguém.

A Renata, que trabalha comigo, calça 37 como eu, então tristemente (porém aliviada) lhe entreguei o par belíssimo de sapatilhas Melissa e comprei uma genérica de plástico por 15,00 (idêntica à original) e que é tão confortável que parece que enquanto caminho, 138 anjos massageiam meus pés.
Sim, eu adoro fazer essas comparações sem sentido.

E eu dei a Melissa pra Renata, não por não gostar dela, muito pelo contrário, porque se eu dessem teria que dar pra alguém que conheço pelo menos, e gostasse, afinal, era um presente de uma pessoa que gosto muito, e afinal, PORRA era a Melissa que eu estava DOIDA pra ter. Pensei que no pé dele a Melissa poderia ser domada e se transformar num sapato do bem, e quando ela veio me mostrar hoje que estava usando e que a Melissa não a machucava, até pensei que a sapatilha pudesse estar se convertendo, mas alguns minutos depois, Renata me aparece mostrando o início de uma bolha no calcanhar:

-Ih, Thaís, agora que eu vi, a Melissa tá começando a pegar aqui, ó. Tá vendo? Tá começando a machucar, mas por enquanto não está doendo.
Pobre Renata, mal imagina que foi assim que tudo começou.
A Melissa de veludo nos encanta, nos chama e quando estamos apaixonadas, nos devora, alimentando-se de nosso chulé e nossa pele como crianças recém-nascidas se alimentam do leite materno fodendo o mamilo de suas mães.
Daqui a pouco seus pés estarão tão machucados que ela implorará por piedade. E assim passará a Melissa adiante como eu fiz, reservando o destino cruel de outra que terá seus pés mastigados.


segunda-feira, 11 de maio de 2009

Tristeza

Recrimina-se. A gordinha que posa nua. O gay que decide se vestir cheio de lantejoulas cor-de-rosa. A mulher que decide, depois de 10 anos de empresa, trabalhar free-lancer. A arte que não é massificada. Recrimina-se a pessoa que decide não falar mal da vida alheia nem participar de rodinhas de fofoca. Recrimina-se veladamente quem não bebe. Quem medita. A mulher sexagenária que não pinta os cabelos.

Recrimina-se o povo pobre. Os nordestinos. Os negros. As mulheres. Os homens que não gostam de futebol. Os homens que não traem. Os que não malham. Os que não ganham bem. Os velhos que repetem as frases. As crianças hiperativas que precisam da atenção dos seus próprios pais. Os jovens que não tem ideário nem objetivo, porque afinal, quem tem?

Recriminamos os que não gostam de animais de estimação. Os que não sabem as capitais dos estados, a tabuada. Os que são fanáticos por religião. As fanáticas por homens casados. Os que contam vantagem, os que contam mentiras. Recriminamos quem quer mostrar o que tem, sem ter. Quem diz que sabe sem saber. Quem diz que faz, sem fazer. Quem finge gozar. Quem finge ser feliz.

E assim continuamos na nossa pequeneza, vivendo nossos dias sem evoluir, recriminando a nós mesmos. Como Narciso negando o próprio espelho.