quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

I don't wanna be Free-La.

Como vocês bem se lembram, há uns posts atrás eu estava desesperada atrás de um Freela.Pois bem, naquele mesmo dia se não me engano, como boa desinformada e iludida que sou, comecei a mandar e-mails para produtoras, mas nada muito explicativo. Coisas assim: "Olá, gostaria de saber para qual e-mail posso enviar meu currículo e algumas pequenas demonstrações de trabalho. Trabalho com o Software tal e tal, meu telefone é tal. Agradeço a atenção, Thaís."

Foi apenas isso. Incrivelmente, vindo do mundo dos sonhos dos desempregados e dos ardentes por Freelas, o dono de uma produtora ligou no meu celular super interessado. Vocês tem idéia do que é isso?
Isso é praticamente impossível. E eu não mandei portfólio nem nada, só um e-mail besta na esperança de um dia qualquer me aparecer uma resposta. É como desejar conhecer o Morgan Freeman e de repente o Morgan Freeman tocar sua campainha dizendo: "Olá, gostaria de me conhecer?"

Pulando de emoções conversei com o cara e marcamos uma entrevista.Passei meu almoço todo do dia seguinte montando meu Potfólio em DVD, fiz um menu animado superlativamente delicioso e escolhi meus melhores vídeos. Fui para a entrevista. Esqueci de dizer pra vocês que era uma produtora de casamentos, mas na minha cabeça, eu receberia bem para editar um casamento, mas nem de longe eu estava certa, e não sei o que me fez pensar essa idiotice. Na entrevista conversamos, ele viu trechos de alguns dos meus vídeos, numa folha impressa expliquei o que continha em cada vídeo e o estilo de cada um.

Ele me mostrou trechos de alguns casamentos editados por ele mesmo e enquanto eu assistia pensava: "Mas que merda! Sou capaz de fazer isso cozinhando Cremogema e dançando Macarena ao mesmo tempo."
Eu me achei capaz de fazer uma edição muitíssimo melhor e com uma trilha sonora muitíssimo melhor, mas tudo bem, calei minha boca e disse que achei ótimo, embora pudesse mudar algumas coisas. Aliás, qualquer um é capaz de fazer uma edição melhor que aquela, cuja trilha sonora do Making Of era uma música da Rihanna. ¬¬
Quem faz isso, cara? Quem faz isso? Nem a própria Rihanna seria capaz de colocar sua própria música em seu próprio casamento! Beleza.

O cara me deu 6 fitas de um casamento pra editar e eu fui toda feliz, e conforme o combinado, negociaríamos o valor ao final do trabalho, já que eu tinha dito a ele que eu havia editado quase tudo nessa vida menos vídeos pornôs e casamentos.
Então como eu era nova no mundo dos freelas e das edições de casamento, ficou por isso mesmo.Tipo, o cara disse que me pagaria o valor de mercado mas queria ver o trabalho pronto. E eu achando lindo. Só depois fui pensar que onde já se viu você se matar de trabalhar e só depois negociar o valor? Só uma palhaça como eu, óbvio.

Então levei as fitinhas pra casa, depois pro trabalho e me dei conta de uma coisa: Como é que faço um negócio desses sem ao menos saber qual o valor de mercado? Pois bem, não me perguntem a cara que fiz quando descobri que em média essas edições custam 200 reais. 250 reais já é quase o limite. Eu quis simplesmente roer todas as fitas ao perceber a merda onde eu tinha acabado de me meter.
Eu tinha dito a ele que o tempo que eu teria disponível seria das 18:00 às 23:00 e aos fins de semana, mas até aí, como eu disse, eu achei anteriormente que eu receberia o justo, porque cá entre nós, na minha concepção, pra editar 6 fitas de pura chatisse nupcial eu deveria receber pelo menos uns mil reais.
E cada fita variando o tempo de 40 minutos à 1 hora e meia. Aliás, acho que ninguém aqui faz idéia do quanto demora uma edição desse tipo.
Mas é isso que dá.
Sonhadora, inexperiente e iludida, quer mais o que? Um belo salame no rabo.

Semana passada fiquei aqui até às 22:00 apenas capturando fitas. Faltam 3 delas.

Comecei às 17:30 de hoje.Eu já tenho um trabalho filho da puta no meu emprego fixo, que é editar, editar, editar, editar coisas difíceis e me virar em 12 quando o câmera caga gostoso e não tem imagens pra cobrir as coisas. Tiro leite de pedra e agora estou eu aqui, com 6 fitas de um casamento insuportável pra editar cuja noiva se assemelha ao rato do Ratatouille.

Ficarei até pelo menos umas 22:30, triste, trabalhando feito uma cachorra parideira, e tudo por apenas...argh...200 reais...que eu ganharia em apenas 1 dia vendendo côcos na praia e ainda me bronzeando. E uma pequena surpresa: Sabe por que o cara não me deu prazo pra esse cacete?Porque depois vi nas fitinhas que o casamento é de 2007. Isso mesmo, é apenas um teste que ele tá fazendo comigo. Ou seja, trabalharei feito um cavalo no cio, ganharei apenas 200 reais para absolutamente nada! =D Não é uma maravilha? Me disseram assim: "Meu, devolve essa merda, inventa qualquer coisa!"
E por um minuto eu pensei em desistir mesmo.
Minha produtora, que já foi produtora da Rede Mulher e o Escamball, me disse: "É, realmente você não sabe o que é Mercado de Trabalho."
Eu sei o que é a merda de um mercado de trabalho, não no quesito edição, mas eu sei.Mas e aí? E daí que eu não sei meu? Dane-se que eu não sei! Agora eu sei! Agora eu sei e não quero mais! Não quero ficar fazendo (Gerúndio! Argh! É estress...) freelas de festinhas esdrúxulas e casamentos bregas onde se cantam ao som de violas "garotos são só garotos". Quem toca essa merda num casamento? Quem-toca-essa-merda-num-casamento? Eu gosto de ouvir essa merda no rádio enquanto lavo louça, no banho, em lojas Renner, mas num casamento?A captura deu pau, o software deu pau, eu dei pau, eu to cansada.

E só vou dizer uma coisa, eu não me importo em chegar pro cara e dizer que não vai dar pra fazer essa merda por qualquer motivo, mas o que pega é que comecei a me importar mais com que os outros vão pensar ao meu respeito. Vão achar que eu não levo as coisas a sério e que compromisso é compromisso e que se eu não dou conta no primeiro obstáculo e não vou dar conta de mais nada. Todo mundo fica com grilos de que "o que os outros vão pensar"? Todo mundo é assim. Os outros são uma bosta melenta. Alguns se importam mais, outros menos, mas todos são.
Mas acontece que isso não é um obstáculo. Isso é um negócio que eu não quero fazer. Simplesmente isso. E dizem que ganhei experiência com isso...ganhei mesmo. Por exemplo, coisas que aprendi com isso tudo:

-Só vou aceitar freelas de pessoas que eu conheço e que vierem me procurar (e me pagarem a partir de 500 contos)

-Quando eu for casar, irei de coturno, boné e cantarei minha própria trilha sonora. Tenha certeza que meu casamento não vai ser um porre como esses casamentos que são um porre.-200 reais é uma sacanagem pro trampo que dá editar um casamento.

-Noivas já me irritavam e agora me irritam ainda mais

-Se eu ver a noiva Ratatouille um dia na rua vou esmurrá-la até convencê-la de que o casamento dela foi mais entendiante do que ver uma tartaruga adormecer no solo.

-Eu realmente adoro as coisas que edito, nunca pensei que seminários com velhos seriam tão prazeirosos de editar. Adoro velhos.

-Acho que eu tenho que desistir mesmo da idéia de ser persistente nas coisas que quero. Eu não sou, nunca vou ser, fato consumado, desisto das coisas porque elas me entendiam rapidamente e porque nunca são do jeito que acho que são. Nunca. Acho que nunca vou achar algo que atinja às minhas expectativas.

-Acabei de decidir que vou devolver essas merdas de fita, não tô com saco de editá-las porque afinal de contas "vivo dentro de um cubo", não tenho noção de mercado de trabalho e preferia estar tomando água de côco no Maranhão com a brisa do mar batendo na minha cara magra.
Eu juro que se esse cacete tivesse prazo eu faria mesmo depois de saber que eram 200 contos, afinal, prazo é prazo e eu dei minha palavra. Mas não vou sofrer feito uma vaca no abate por algo que não vai me fazer a mínima diferença e nem vai fazer diferença pro cara.

Quem sabe um dia se eu tiver pai e mãe passando necessidade, filho berrando no meu ouvido e dívidas que vão me foder de juros, eu não tome jeito, não é mesmo?Por enquanto não vou me desgastar. Tenho um emprego, sempre fiz tudo direito e cumpri com meus deveres, nunca fui uma irresponsável, mas em matéria de Freelas, eu realmente não quero mais essas merdas. Então por favor, não me passem freelas, tão entendendo? Essa atitude minha me tirou 12 kg da cabeça. I'm Free!!!! But I Don't wanna be Free-la Anymore! =P

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Eu vi gnomos

Aqui em casa tem o Bill, que engole as moedas e é super moderno. Um cão de porcelana todo tatuado, parece um rapper. Tem a pig, que é enorme, quentinha e rosa, morro de ciúmes. Tem o buda roxo, tem o santinho que ganhamos porque éramos pombinhos em lua-de-mel e ele segurava um pombinho.

Tem o gatinho japa com a pata pra cima e um bichinho que você pinta um olho e faz um pedido, depois pinta o outro quando o desejo realiza. Lá fora, tem o escorpião, a rena e o urso polar que chama Oso.

Todo dia, assim que a casa fica vazia, eles tiram as garrafas de vodka do freezer, puxam a tequila 1800 do bar, abrem o whiskão 12 anos e se preparam para aguentar imóveis mais uma noite ouvindo a tonelada de besteiras que se fala por aqui.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Estranhos.

Chamaram de estranhos
Os homens que comeram doce mais do que deviam
As meninas que fizeram sexo mais do que elas podiam
Os homens que preferiram dormir ao invés de partir
Aqueles que urraram de dor e não conseguiram fingir
Aqueles que voaram alto sem mesmo sair do lugar
Humanos que se esqueceram mas não se esqueceram de amar
E quem levantava à noite pra colorir e cantar
E outros que resolveram dizer ao invés de falar
Adultos que não correram pra aliviar o atraso
Jovens que não morreram por não se lembrarem do prazo
Avós que calçaram botas e se deitaram no chão
Formandos que se mudaram para os confins do sertão
Aqueles que ignoraram palavras, tendências e placas
Doentes que estavam morrendo mas se levantaram das macas
Garotas mal educadas que um dia criaram asas
Voaram pro céu e foram embora pras suas casas.
Chamaram de estranhos
Homens.
Homens que carregavam violas
Canetas, pincel
Homens que vivem no inferno
Mas dentro de si têm o céu.