terça-feira, 17 de abril de 2012

Conto Não Tão Infantil

Ele tinha 11 anos quando começou a considerar o sexo feminino algo interessante e não inútil como até então. Sua mãe sempre dizia que ele ia casar e ter filhos mas ele nunca entendeu o porquê disto, já que por conta de sua ingenuidade infantil, pensava que seria criança, livre e feliz para sempre.

Quando fez 12, seu irmão de 19 mentiu dizendo que iam ao cinema e o levou ao prostíbulo, único lugar onde ele ainda não havia explorado naquela cidade interiorana onde todos se conheciam. Lá dentro, sentiu cheiro de tabaco, pinga e de segredos. Seu irmão parecia conhecer todas as mulheres, algumas das quais sentiu nojo e achou bem velhas. O irmão chamou o nome “Lisbete” e lá de longe ele avistou, saindo detrás do balcão, uma imagem angelical, loira e maquiada como nas revistas de sua mãe. Ela não devia ter mais de 15 anos, calculou, enquanto sentia calafrios de pensar no que fazer com ela quando subissem...sabia que teriam que subir.

Subiram. Perto do ouvido dele, ela disse “pode me chamar como quiser, mas sou Lili”. E foi se despindo. Ele a copiou. Ela disse, apontando pro lado “tá vendo aquela janela, é por ali que vamos fugir depois que você virar homem, hoje”. Ele, já perdido em seu turbilhão de hormônios adolescentes, concordou, sem sequer entender.

Quando acordou do transe, ela já estava juntando alguns panos e pedindo a ajuda de Deus para que não morressem ao cair da janela. Pulou. Ele, de novo e sem pensar, a copiou. Estava apaixonado.

Iriam pra casa do primo da mãe dela, paixão antiga, ela descobriu. Quando a mãe morreu de tuberculose há três anos atrás, não conseguiu ter forças para ir além daquele lugar, mas não agora, agora ela tinha alguém. Ele era tudo que ela queria ter sido, feliz, ingênuo, cuidado, simples, vivo. Ela estava morta por dentro, mais morta que a mãe, pensava, mas não hoje, não mais.

Estavam sorrindo. Ele fora para um dia voltar, ela pra nunca mais. A paixão decidiria o resto.