quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Porque eu também gosto de mim.

Internem-me
Porque este mundo é P mas eu só visto M.
Mas quem é esta pobre garota que julga seu extravasar tão intenso, se nem ao menos provou um décimo das loucuras mundanas?
Internem-me
Porque eu canto como vocês, mas minha voz lhes soa rouca.
Eu falo a língua de todos vocês
Mas se vocês não conhecem a própria língua, como me cobram mordazmente uma compreensão?
Meu vocabulário
É menor do que eu gostaria
Minha cultura
É menor do que eu gostaria
Minha ternura
Quase escassa:
Não, obrigada.
Porque sou de gestos tumultuosos
Mas dentro de mim guardo tudo.
Eu sou a louca que dança ao som do nada
Eu sou a maníaca que fala sem dizer
Mas tenho quase todas as qualidades do mundo
(Quase)
E desprezo com tal asco
Qualquer forma de desrespeito.
Se Jesus deu a outra face,
Pobre coitado, deve ter doído!
Mas ele é filho de um bípede, e eu não.
Tenho uma característica: Adoro provocar quem me provoca.
Sou sensível a ponto de morrer de remorso por nada
Mas odeio com tal profundidade qualquer atitude injusta.
Façam sofrer quem eu amo, que eu lhe detestarei.
Façam sofrer a mim, que eu lhes desejarei atrocidades
(Mas é só na hora, não sou capaz de realizar uma vingança.
A vida costuma ser mais cruel em muitas vezes).
"Deseje felicidade a quem te odeia"
Não.
Não desejo, porque isso é falso.
E porque não sou filha de uma pomba.
Desejo que aqueles que me odeiam
Percebam que não há motivos para me odiar.
Mas ainda assim, se não perceberem
Que explodam.
Porque eu não sou odiável.
Hoje estou convencida que qualquer pessoa que não goste de mim
Tem motivos de sobra para que não gostem dela.
Porque eu passei grande parte da minha vida
Pensando que eu poderia ser um problema
Que se não gostasse de mim, eu era a causa.
Mas
Eu nunca fui o problema.
O problema sempre foram os outros.
Se eu admito quando erro?
Admito e sinto um remorso tão intenso, que sou capaz de me ajoelhar por dias diante dos pés alheios
E chorar rios de lágrimas.
E hoje sei
Que não sou problemática como me disseram
Que não sou desequilibrada como me disseram
Que não tenho problemas emocionais como me disseram
Que não sou o que no passado me fizeram crer que eu era.
Vocês estão em desvantagem.
Eu fui ao psiquiatra e ele me disse uma coisa:
"Você é muito consciente de si mesma!
Isso é raro!"
E eu quase disse: Que novidade!
O único que poderia atestar minha loucura
É um dos pouquíssimos que acreditam que eu não tenho problema algum.
Eu ri interiormente. E achei engraçado e bom.
Eu sempre estive lúcida, Doutor.
Eu sempre estive consciente
Mas o que é uma pessoa consciente num mundo de insanos?
A própria louca.
Esse mundo está uma grande bosta.
As pessoas não se assumem
As pessoas fogem de si mesmas e preferem
Sempre preferem
Jogar a batata para nossas mãos, para que nos queimemos com suas verdades.
Mastigamos a verdade alheia como se fosse batatinha frita
Mas sentimos um gosto amargo que pensamos talvez nunca passar.
Minha boca está amarga pelo gosto das verdades alheias
Verdades que não quiseram engolir e em minha boca vomitaram.
Eu engulo a verdade de vocês
Com isso vou sofrendo de ânsia, e vocês de covardia.
E a cada golada do suco podre de vocês
Minha visão torna-se menos turva
E a vossa visão, "vaidades de carne e osso", torna-se escassa por fim.
Não sou depósito de vossa falta de sobriedade.
Peçam-me conselhos, peçam-me um beijo
Mas não me peçam para vestir-me com o fardo de vossa ignorância.
Fardo mal-cheiroso e pútrido que não me serve
Porque não é meu.
Cada um tem seu fardo sob medida.
Cada um tem suas desgraças sob medida
Cada um um tem suas glórias sob medida.
Mas a gente tem uma sensação filha-da-puta
De que tudo isso não é pra gente.
Já não bastassem meus erros
Ainda adotar os de vocês?
Pois internem-me que talvez até vos agradeço.
Quem sabe no hospício não recito poesias para os loucos
E por eles seja aplaudida?
Quem sabe no hospício eu cante canções que as pessoas também escutarão?
Quem sabe no hospício eu escreva um livro de sucesso
E depois fique rica, case e mude?
Quem sabe?
Loucura inversa.
Diversidade ridícula que é o mundo
Estratégicamente perfeita, bela e ridícula.
Me perdoe, mundo, por querer ser útil mas vender minhas roupas.
Me perdoe, Bento, por não acreditar em você.
Me perdoe, mundo, por viver no limite da transparência.
Isso não é pra você.
Isso é para os bons que já não estão aqui.
Mas viva, prometo, estou tentando me adaptar
E adoro isso aqui tudo, por mais que deteste.
Perdoe por tentar entrar de qualquer jeito na roupinha P que você me emprestou
Ainda que ela fure e rasgue.
Mas eu sei, no fundo eu sei
Que diante de toda a extensão de vossa grandiosidade
Que eu sou P como muitos outros
Ainda que existam subdivisões abaixo dos que também vestem meu número.
O M é a roupa que eu tentei afrouxar os elásticos.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Gente que me irrita

Gente que cutuca espinha em público
Gente que acredita em spam
Gente que não chora pela mãe morta, mas chora por futebol
Gente que trata mal garçom, pedreiro, gari, faxineira
Gente que tem raiva de quem se beija em público
Gente que come 25 claras por dia antes de "treinar"
Gente que jura que era aquilo mas nem viu direito
Gente que fala por trás e não tem coragem de entrar numa discussão
Gente que não sabe o nome de UMA planta ou flor
Gente que grita “minha músicaaaa” pra I Got a Feeling ou qualquer uma da Rihana/Beyoncé/Gaga
Gente que chega do metrô e deita com a mesma roupa
Gente que não lava a mão
Gente que fala “queridão”
Gente que quer te converter
Gente que usa batom cor-de-vinho e deixa marquinha
Gente que gasta mais do que o salário comporta e posa de rica
Gente que acha que regras são só para os outros
Gente que leva BBB a sério
Gente que dá uma olhada na cara dos outros antes de falar, pra ver se não vai destoar
Gente que chuta cachorrinho ou gatos
Gente que acha que bebida perdoa o que fez
Gente que é política demais e esquece de ser sincera
Gente que baseia seus valores morais numa religião e não na própria consciência
Gente que não sabe rir de si mesmo e nunca pede desculpas
Gente que critica demais. Incluindo eu mesma.