sábado, 31 de maio de 2008

Da série Contos Quentes e Estranhos

Henrique era o que se podia chamar de fodão. Adolescente bebedor, primeiro da turma a fumar maconha e a ter trazido a polícia pro colégio. Provocava todo o tipo de gente diferente dele e dos seus clones, desde a menina das orelhas grandes, até o menino nerd cabeçudo que sentava na frente e gostava da Silvinha. Que já tinha mostrado os peitos pro Henrique. Ninguém sabia, mas Henrique guardava um segredo: era um ejaculador precoce.

A primeira desculpa oficial foi a bebedeira do primeiro colegial, quando depois da festa mal encostou a mão na bunda da Letícia, mal levantou a blusa dela, e... . Henrique era macho, muito macho. Contou pra todos os amigos como a bocetinha dela era quente e apertadinha. Era isso que ele ouvia os caras dos filmes pornôs dizerem, não ia errar.

Até os 28 anos, Henrique só se metia em relacionamentos que duravam no máximo três semanas, trepava com as recém-saídas de cursinhos que não se preocupavam muito em querer gozar, e sim com a sua Pajero nova. Ainda era o fodão. Na multinacional de softwares onde trabalhava, acabava de receber uma promoção, às custas de muito whisky, charuto e putaria patrocinados para o cliente. Um sucesso de carreira.

Henrique focava nas estagiárias mais novinhas, mas nunca tinha se permitido um deslize. Uma delas, Patricia, se apaixonou perdidamente por ele, entendendo como respeito e dignidade ele não ter passado dos beijos. Estranhamente, ouviu da sua amiga que o boato nos corredores era o de sexo no estacionamento, não de beijinhos inocentes. Não importava, porque Patricia ansiava pelo dia em que ele iria levá-la para um motel chique, beijar e chupar seu corpo todo, penetrá-la por horas e horas até ela gozar umas cinco vezes. E eles teriam um relacionamento perfeito.

Mal sabia ela que Henrique, toda noite ao se masturbar, imaginava a gerente de marketing, a diretora do financeiro, a VP de tecnologia, todas mulheres maduras e experientes, revezando entre chupar, sentar no seu pau e elogiar sua ótima performance. Tempo ilimitado de sexo perfeito. O único problema era que, depois de gozar e dormir, Henrique tinha sempre o mesmo pesadelo: A Silvinha, a menina orelhuda, as três gostosas da empresa, a Letícia e a Patrícia de pernas abertas para o nerd cabeçudo, praticavam sexo tântrico, trepando a noite inteira e rindo infinitamente dos dois minutos de cócegas que ele havia proporcionado a todas elas.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Uma história sobre buracos negros, estrelas e cachorros bravos.

(...) Deus, não sei mesmo o que é você direito, não sei se é homem, mulher, se é rosa, se é azul, se tem cor, se tem cheiro, se usa sandálias ou se parece um mingau, um ser humano ou uma gelatina. A única coisa que eu sei é que você existe e que as pessoas costumam te pedir coisas. Talvez pedir as coisas para você seja um erro, talvez seja uma idiotice de humanos carentes que precisam se apegar a algo para que não se atirem de uma ponte.

E talvez eu esteja cometendo uma tremenda insanidade agora, mas a questão é que se você realmente atende a alguns pedidos (não sei se você usa os métodos de sorteio ou sei lá) eu te peço uma coisa: Se você puder atender a esse meu pedido, não permita que eu escute aquela pergunta de novo de outra pessoa. De coração mesmo! Isso enche o saco! Não quero encontrar outra pessoa cujos olhos me fazem a mesma pergunta, ainda que não verbalmente! Isso realmente é um atraso de vida.Pronto! Pedido feito.

Quando eu era pequena minha mãe falava que as pessoas que riam de mim na escola tinham inveja de mim.
E eu falava: inveja do que, mãe? Eu não tenho nada de especial.Aí a gente cresce e vê que no mundo pouquíssimas pessoas são especiais. Porque o máximo que elas fazem hoje em dia é serem legais e falarem as coisas com veemência para provarem que têm personalidade, mas como dizia Nietzsche (vou parar com essa idiotice de citar filósofos porque dá um ar cult que eu não tenho), a pior inimiga da verdade não é a mentira, e sim a convicção (ou algo assim). Em todas as pessoas super legais que conheci, acabei descobrindo em pequenas atitudes menosprezadas pelos outros, falhas de caráter gigantescas! Isso só nós duas entendemos...conhecemos muito de uma pessoa pelo simples jeito de ela respirar quando fala uma palavra. Percebemos grandes buracos negros dentro do coração de uma pessoa pelo simples jeito de ela movimentar os olhos quando diz uma palavra sequer.

Detalhes que mostram falhas tremendas de caráter.E neste caso, não posso dizer que eu não sabia. Eu sabia.Não fui enganada 100%. Eu que me deixei enganar porque quis. Eu quis encobrir os erros com a idiotice da esperança infundada.

Eu sabia de tudo. E a única coisa que me surpreende é o fato de que eu estava certa o tempo todo e não a veracidade da situação em si. É o mesmo que "Uau! Eu sabia que choveria canivetes hoje e que essa merda ia me cortar a cara!" em vez de "Uau! Está chovendo canivetes hoje e essa merda tá me cortando a cara!". Eu sabia o tempo todo que ia chover canivetes e que eu poderia correr um sério rico de ser ferida, mas ao invés de sair correndo, permaneci ali, esperando acontecer.

Que tipo de idiota faz isso? Que tipo de idiota põe a mão no fogo sabendo no fundo que vai se queimar? Eu mesma respondo: uma idiota apaixonada.
É isso. Pela minha vida encontrei muitas pessoas legais. Mas e daí? Quem disse que eu me importo com pessoas legais? Quase todo mundo nesse mundo é legal. E só. Não quero estar rodeada de pessoas super legais na minha vida e que não me servem pra absolutamente nada, nem pra jogar conversa fora. É...só legal, como tantos outros, só é legal...mais nada.

Absolutamente mais nada. Legal...como a maioria das pessoas que fodem com tudo e com todos. E agora rindo enquanto lembro de algumas situações e atitudes, complemento: inclusive com si próprios.
Menos mal que o corte do canivete não cortou tão fundo e me rendeu mais risos do que lágrimas. É o mesmo que cortar meus pulsos e esperar que sangre na outra pessoa.

As pessoas mais especiais que conheci, não fizeram parte da minha jornada.Foram pessoas que conheci talvez por pouquíssimos segundos mas que me disseram uma palavra que valeu a pena.Foram pessoas que me deram aula por uma semana, um mês, e que sabiam meu nome, mas nada sobre mim.Vizinhas que moravam ao lado de casa quando eu era bem pequenininha e hoje se apagaram no tempo. A Adelaide, que vivia brigando com a filha, Daniela, e que me chamava de "minha princesinha."Tem também a Dalva! Eu nunca vou me esquecer da Dalva. Ela também morou na casa ao lado antes da Adelaide.A Dalva tinha um quadro lindo dela de bailarina ainda quando era novinha. Lindo o quadro. Eu amava a Dalva.

E sabe aquelas estrelinhas que a gente comprava na papelaria pra levar pra escola? Uma vez eu entreguei uma estrelinha pra mãe dela e disse:-Olha, dona Alda! Entrega pra sua filha. Diz que é uma estrela que nem ela. Uma estrela Dalva!Eu lembro também que tinha o tio da van que levava a gente. O tio Sérgio. Ele tinha um cavanhaque e eu pedia pra ele me dar uns pelinhos do cavanhaque dele de lembrança. Ai meu Deus!Aí ele puxava os pelinhos com a mão e me dava. Eu chegava da escola, subia no quintal de cima e gritava o nome da Dalva, que vinha com toda a paciência do mundo:"Dalva! Você pode guardar essa barba do tio da escola? Ele me deu de presente e eu não quero perder. Guarda pra mim?"E ela guardava. Meu Deus! Ela guardava as barbas do tio da van que eu dei pra ela inúmeras vezes.Pessoas especiais. Pessoas especiais que passaram pela minha vida.Hoje, o brilho da estrela Dalva continua brilhando, mas fraqueja por causa de um câncer que se desenvolveu por causa do cigarro.

Ah, estrela! Nesse aspecto você foi burra demais. Poderia estar brilhando linda até hoje, do jeito que brilhava há 10 anos atrás!Pessoas especiais ainda trilham comigo o meu caminho, me trazendo lições valiosas no dia a dia.
Por sorte, ou milagre ou merecimento, tenho na minha vida pessoas que fazem valer a pena.As outras, não passam apenas de pessoas legais.Mas lembrando que assassinos também podem parecer legais. Pessoas cruéis também podem ser legais. Políticos ainda mais podem parecer legais em épocas de campanha.Pessoas legais e engraçadinhas. Verdadeiras hienas que comem merda e depois dão risada.

É só isso que vejo.Não consigo enxergar no mundo algo além disso. Aliás, mal consigo enxergar o mundo por conta disso.E é exatamente por isso que não me interesso pelas pessoas. É exatamente por isso que não me importo com o jeito que saio na rua. Eu mais do que ninguém sei que as pessoas realmente me pesam e me cansam.Pouquíssimas delas me divertem, me distraem e me extraem um sorriso quando apenas vejo passarem pela rua.

É o meu instinto indolente que cresce, porque se faz necessário. Sou reles, mas não a mais de todas (portanto não tão reles), e isso é que me faz indolente. Ainda com a consciência de que quanto mais sei, menos sei, tenho em mim essa indolência que me deixa um pouco a parte disso tudo. Um riso blasé pela leviandade das pessoas super legais que povoam o mundo. Um riso blasé amargo que pede um cigarro para ficar ainda mais blasé, mas deixa pra lá porque ainda me considero uma garotinha de princípios.

Costumo me interessar por seres humanos, mas a única coisa que tenho visto ultimamente são apenas seres.
O ser (humano ou não) é algo incrivelmente maravilhoso quando admirado de longe. Chega até a ser bonitinho, engraçadinho, cuti-cuti.Mas cuidado ao tentar cuidar de um deles. Pode ser muito, muito perigoso.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Vamos fugir, please?

A cidade da garoa ácida e das estrelas encobertas pela etérea poluição. A cidade das possibilidades, do dinheiro, das opções, dos guetos e da massa, da moda e da gula. Das pessoas vestidas com ternos caros e suas máscaras. Da comida rápida, dos amores rápidos, do trânsito lento. São Paulo.

Aqui, pouco é o que parece. Eles correm pra ficar parados, se aglomeram e sentem-se sós, comem pra perder tudo depois, saem pra caçar no limbo da noite e reclamam do vazio das pessoas. A cidade dos absurdos.

Tanta gente jogada nos bueiros, na sarjeta, na vida. E a vida passando por eles. Mendigos, maltrapilhos, loucos, vadios, morrendo no chão quente dos carros importados e blindados. A cidade da disparidade.

Tanta gente culta, que lê, que aprende, que dissemina, tanta coisa errada acontecendo e eles frigindo que não vêem. A cidade das aparências.

Tanta fila, tanta loucura, tanta procura pela paz interior nos yogas da vida. A corrida pelo primeiro milhão, pela promoção depois de horas a fio perdidas dentro de um prédio com ar condicionado e tanta procura pelo tempo livre e pela qualidade de vida. A cidade das controvérsias.

Tanto possibilidades, quanto decepções. Tantas vertentes e nenhuma verdade. Tantos estilos diferentes e tantos interiores apodrecidos. A cidade do curto-prazo.

O equilíbrio procurado nos amigos. As pessoas que se juntam pra serem inteiras. A cidade dos vínculos que precisam ser fortes.

A cidade da madrugada, a cidade dos solitários. A cidade dos restaurantes do mundo, a cidade das moedas diversas, a cidade das empresas imponentes e dos bairros feios, a cidade da variedade que segrega.

Onde existe a night comparável aos melhores países, onde menores bebem e matam, onde as pessoas têm medo de colocar o pé para fora de casa, onde todos nós vivemos.

A cidade que me faz arder os olhos de sujeira ao voltar de algum paraíso por aí.

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Esse texto é uma re-edição, além de um desabafo. A autora julgou merecedor, ao ler que em 2010 seremos o terceiro local mais populoso do mundo. Durmamos num barulho desses.

sábado, 3 de maio de 2008

Nas Entranhas de Marina

O que você estava fazendo ao lado do móvel, Marina?
O que você estava fazendo ali?
Eu matei você, eu enterrei você
Cobri você com terra
Depois eu atirei cimento
Coroei seu túmulo com flores
Enchi seu velório de velas!
E como você me aparece, Marina
Como se jamais tivesse sido enterrada?
Como você aparece bonita, sorrindo, corada!
Como se não fosse você
Como se não passasse por nada!
Como se jamais
Tivesse sido assassinada.
Saltite, Marina!
Saltite sobre mim, mecha nos meus cabelos
Me enfie o dedo no nariz
Me pegue pelos cotovelos.
Mas apesar de tudo, menina
Eu me odeio, eu me culpo, Marina
Porque fui eu
Quem escavou a terra
Quem restaurou suas fotos
Quem apagou suas velas
E pôs sua imagem nos fogos.
E bebeu a sua bebida
Ligou na sua programação
Beijou você nos meus delírios
Perdeu o texto e a noção
Plantou valquírias, plantou líros
Na porta da sua mansão.
Ah, Marina, morra Marina!
Morra pra sempre sem precisar de mim
Morra de sede, de câncer, dos rins!
Morra de tanto beber
Morra de tanto sofrer
Morra de ódio contido
Morra de peito ferido
Sangre até falecer.
Morra, menina, já não posso mais te suportar
Sua cabeça eu irei coroar
Com a auréola dos anjos caídos.
Morra, Marina, morra para que eu não me apaixone
Para que eu não pegue o telefone
Para que eu comece a te ligar!
Ah, menina Marina, por você eu cortei meus braços
Por você eu desfiz meus cachos
Por você eu me arrebentei
Arranquei para fora os meus pés
Minhas mãos na foguera atirei
Fiquei completamente dependente de você
Parece música sertaneja!
Enfeitei teus lábios com cereja,
E mordi como se fosse doce
E como se nem isso me desgraçasse!
Chorei no seu travesseiro
Estiquei na sua caminha
Levei choque no chuveiro
Saí de casa sem calcinha.
Dirigi com os meus pés descalços
Bati num poste da avenida
Venci você pelo cansaço
Puxei você pela saída.
Marina! Perdi a Luta!
Marina, filha da puta!
Marina, sua desgraçada
Menina desnaturada!
Marina...ei, Marina, acorda.
Que foi? Tá muito forte a corda?
Que foi? Não vou chamar ninguém!
Já que é pra sofrer, que eu sofra
Mas que você sofra também
Enforca, enforca, putinha!
Quero ver você morrer
Sem a mesma ladainha!
Ah! Doce sofrimento eterno
Que gira ao contrário meu mundo
Pois se eu me foder no inferno,
Sorria que você vai junto.