sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Da série contos quentes e estranhos - II

Quando Mariana abriu a porta e viu seu marido agarrado horizontalmente a uma das pernas daquela mulher que parecia um travesti - Mariana havia comprovado, naquele ângulo, que não era - o mundo se desproporcionalizou na sua mente, de uma maneira que ela jamais ousaria pensar.

Revia na sua cabeça, horas depois do acontecido, a quantidade de vezes que havia se perguntado como reagiria a uma situação como aquela, comprovando o que imaginava lá no fundo da sua alma, sem coragem para admitir: já sabia, sentia, quase precisava ter passado por aquilo.

Tivera uma vida linda até aquele momento. Uma infância alegre, pais que a protegeram quase no equilíbrio entre a proteção e o aprendizado, amiguinhos de infância, namoradinhos, era linda e mimada da maneira certa. Não precisou ter fases na sua adolescência, todos a aceitavam, todos sempre diziam o quanto ela era doce e compreensiva, a menina de ouro do colégio, dos amigos, da família. Só se vestia com estampas florais ou cor-de-rosa, no máximo azul claro.

O primeiro namorado, com algum custo, conseguiu arrancar dela a virgindade. Mariana adorava o jeito dele fazer carinho nos seus seios, mas não gostava de ir muito além disso. Não achava que era muito delicado. Mariana gostava de coisas delicadas, todos diziam que combinavam com ela. Um ano depois, o tal namoradinho viajava para São Paulo pra fazer faculdade. Jazia aí o namoro.

Mariana nunca imaginou que conheceria o grande amor da sua vida tomando seu primeiro (e único) porre, algum tempo depois. Estava só, se sentia mal, resolveu ir a um dos únicos bares da cidadezinha onde sabia que não seria reconhecida. Pediu gim-tônica. Duas, três. Acordou sem saber quanto tempo depois, já do lado de fora do bar, nos braços de um jovem sedutor, naturalmente charmoso. E lá mesmo o beijou. Achou, no dia seguinte, um papelzinho com o número de telefone que dizia: ligue para o seu herói, como sinal de agradecimento. E ela ligou, achou delicado da parte dele.

Muitas explicações pelo dia fatídico, saídas, cinemas e alguns meses depois, ele decidiu que era hora de avançar, a pediu em namoro. Ela dizia que ir para o motel, só depois de constatado formalmente o compromisso. E então foram.

Ela apagou a luz. Ele pediu para acender. Ficou na meia-luz. Ela deitou de lingerie embaixo do lençol, ele pediu para ficar em cima da cama e se despir para ele. Ela só abaixou as alças do sutiã. Ele tirou a roupa e ela o viu. Teve vontade de colocar a boca no corpo dele mas não o fez, não achava esse tipo de coisa muito apropriado. Ele a puxou para perto e ela delicadamente abriu as pernas em posição papai-mamãe. Deu um beijinho no rosto dele depois que ele gozou. Casaram-se depois de três anos.

Se no começo ele a chamava de "minha lindinha", com o tempo aquela delicadeza toda tornou-se um fardo difícil para ele suportar. Palavrões não eram permitidos. Boquetes, nem uma vez. A casa inteira cheirava a flores. Sua mãe era a melhor amiga da sua esposa, tomavam café à tarde e passeavam pela cidade, falando de como criar filhos.

E agora, depois de ver aquela cena surreal acontecendo na sua própria cama, tudo que Mariana sentia era uma vontade incrível de sair daquela cidade e arrumar um emprego. Sentia algo estranho dentro de sí, mas ainda não sabia definir o que era. Decidiu ir e foi, sem malas, sem documentos, sem se despedir dos pais. Precisava ir.

Cinco anos passados, qual não foi a surpresa de Mariana, toda vestida em couro preto, ao ver Sérgio, seu primeiro namorado, entrando e vindo ao seu encontro pela porta do Império Dominatrix em plena rua Augusta, com o olhar implorando pelo seu salto 16 e suas técnicas de sufocamento conhecidas em toda a cidade.

7 Comments:

Ane Talita said...

Tem horas em que é inevitável se jogar...=)

beijos!

Thaís SBA said...

Hahushauhsuhauhsuhauh...adoro esses seus contos...tem muito a minha cara hahahha(não me refiro à roupa de couor e nem à Rua Augusta, que fique bem claro) hahahha!

Vc eh foda...

]Bjos lindona!

Thaty said...

meu deeeeeeus!
adorei!!

Mulher do Padeiro said...

Hehehe, uiuiui... onde eu arrumo uma roupa dessas para comprar???

Muito booom!!

Mil beijos!

whiteposernigga said...

"Boquetes, nem pensar..."


Triste.

AUHAUHAHUHAUHAUHUAHHUAHAHA


Calma que sua cadeira na Academia Brasileira de Letras ta chegando mais perto.

Besos.

Anônimo said...

Olá gatina.

Quero distância do seu salto 16!
To fora..rss

AMA,

Chris

Anônimo said...

Putz, o pior é que os coitados vão sofrer por causa do marido, ohuhouhohoh.

Beijoka,