sábado, 19 de abril de 2008

Amor Geométrico

Olhe-me por trás dos meus olhos
Existe algo muito maior do que meu globo ocular.
Ouça o que há por trás de minha voz
Existe muito mais do que a respiração entre seus intervalos.
Sinta o que existe por trás do meu abraço
Existe muito mais do que um calor inocente.
Olhe por trás da minha inocência.
Aliás, não olhe. Não sei se ainda a tenho.
Me enxergue. Onde quer que esteja.
Te mostrarei muito sem que eu diga nada
E escutarei sua voz mesmo que você se cale...
Terei de parar com isso?
Terei que buscar outra ideologia?
Terei que ser igual aos demais?
Sufocar meu amor? Que bobagem.
Uma pessoa que não dá valor ao amor em si
E que não dá valor ao próprio amor e não tem paciência com ele
Jamais vai aceitar o meu amor.
Mas deve existir alguém nesse mundo que enxergue o que eu quero dizer
Vai existir alguém no mundo que me olhe e entenda
E que sorrirá ao entender.
Mas ele não sabe de nada
Meus pais não sabem de nada
Meu irmão não sabe de nada
Meus amigos tampouco imaginam
Minhas amigas tentam saber

Estou perdendo um pouco a cabeça
Nessas horas penso: Será que se eu fumasse
Eu me sentiria melhor?
Será que se eu me drogasse
Eu me sentiria melhor? Será que se eu bebesse...Não, não.
Neste estado me daria sono.
Ou lágrimas. E eu não quero lágrimas
Elas estão aqui dentro fazendo festa mas ainda não resolveram sair
Por que não chegou a hora
Mas quando a hora chegar elas saltarão de meus olhos como se salta de um tobogã
E se divertirão por entre meus traços delineados do rosto
E serão absorvidas pela roupa
Ou formarão pequenas pocinhas no chão, até que sequem
Ou até que alguém pise. Ou até que eu mesma pise.
O que fazer para se sentir melhor quando se gosta de alguém e a pessoa não gosta de você?
Nem todos os sucos de laranjas do mundo.
Nem todas as águas de côco ou sorvetes com cobertura.
Céu azul, bicileta, tinta, caneta, peteca.
Nem desenhar.
Mas existe uma coisa que talvez me faça sentir melhor.
Talvez, eu disse.
Escrever.
Minhas escritas são psicografias das lágrimas.
E ditam de lá de dentro o que eu devo escrever.
E na verdade, tudo isso aqui não passa é de um grande berreiro
Como o de uma criança mimada que nem ao menos sabe escrever.
Mas choro de criança também é crônica
Choro de criança também é poesia.
Talvez muito mais poesia do que as poesias de muitos que se dizem poetas.
Porque choro de criança vem indiscutivelmente da alma.
Se for birra, é uma birra que vem da alma.
Se for manha, é uma manha que a alma faz.
E se for medo de ficar sozinha
As lágrimas são da alma infantil que treme insegura embalada por um pequeno corpo.
No fundo, toda alma é criança,
Porque o amor não se contém
Nós que contemos o amor.
A lágrima não se segura
Nós que seguramos as lágrimas
O desejo não se reprime
Somos nós que o reprimimos.
E nessa selva de sentimentos, vamos aprendendo a domá-los
E os contemos tanto, tanto, que acabam deformados, encolhidos
Dentro de uma caixinha sem ver a luz do sol.
Acabam por sua vez, quadrados.
E se porventura saírem, saem com medo, com os olhos ardendo
Com medo de algum animal
De um predador
E quando expostos, muitas vezes voltam correndo
Para suas devidas prisões. Já sentimento exposto, sem ser segurado
Sai correndo a mil e um por hora
Rasgando tudo
Inclusive o peito.
Atraiçoa, é sarcástico
É fantástico
É elástico
É atirado como num estilingue.
Voa rápido e ninguém vê
Porque ninguém está acostumado a acompanhar a rapidez de um sentimento verdadeiro, voador!
Afinal,
Eles vivem todos enclausurados, não é mesmo?
Mas quando ele voa, você tem que olhar
Tem que acostumar seus olhos à visão, porque ele voa lindo.
E ele não pára de voar, só que ninguém acompanha
Então, um dia, ele cansa.
De que serve tanta beleza se não existem olhos para admirar?
Se não existe um dono que o queira cuidar?
Então, ele vai parando de bater suas asas
Pouquinho por pouquinho
Então ele cai
E cabisbaixo, anda devagarzinho sem ser notado
Abre uma caixinha
Entra nela
E fecha a tampa.
E ele se enclausura
E se deforma, como todos os outros.
E come suas próprias asas para que caiba na caixa.
E acaba geométrico.
Não porque alguém o colocou lá, porque ele nasceu livre
Mas simplesmente porque sua liberdade já não serve de mais nada.

9 Comments:

Anônimo said...

Thééééis!!!

Caraca meu, quanto tempo que não visito seu blog... E cada vez me surpreendo mais, puts show de bola o texto. Parece mentira mas eu li mesmo huahuahuah
Adorei mesmo a perfeita a analogia de comer a própria asa pra caber na caixa.

Bemmm continue ae filosofando que nessas a gente viaja mesmo...
Bjuuuundas,
Kiss /:^)

Tha Basile said...

Eita combustível que é o tal sentimento, não? Faz sair cada texto..!!

Beijos e bom feriadoooooooooo
Tha Basile

ps* me fala do papis e da vo?

Luan Iglesias said...

Dentre todos os anos de leitura, e todos os poemas e poesias, crônicas, contos, não importa. Dentre tudo que li nesses meus 20 anos nada é tão lindo quanto essa escrita. (Juro, e não li pouco) Li em voz alta esse teu texto e me encantei com o poder que as palavras podem dar a um sentimento.

Simplesmente me apaixonei.

Um beijo.

Anônimo said...

Hello. This post is likeable, and your blog is very interesting, congratulations :-). I will add in my blogroll =). If possible gives a last there on my blog, it is about the Wireless, I hope you enjoy. The address is http://wireless-brasil.blogspot.com. A hug.

Ane Talita said...

A cada dia vc me surpreende com teus textos...

beijo!

Thaty said...

"No fundo, toda alma é criança"

lindo!

emocionante!

beijos na bochecha!

Anônimo said...

Lindo, lindo... se eu tivesse apaixonada ou em vias de, seria mais lindo ainda. Onde será que foi parar meu romantismo?!

Kelly Soares said...

Eu ia dizer que o texto tava grande demais, sabe... mas tava tão gostoso de ler que eu perdi a noção de tempo e espaço ;)
Gostei muito!!!
Bjos

Kelly

M.E. said...

THAÍS MARIA,
suas palavras têm força! Esse texto forma uma imagem bem clara na cabeça... e a coisa mais triste foi ver o amor apertadinho, cortando as asinhas, ficando quadrado.. Sabe, antes ser louco do que ter um amor geométrico. Não vamos nos adaptar!!!! LIBERDADE É PRA QUEM TEM.
ps: por outro lado, escreveríamos o que se nada disso fosse assim!?