terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

A Tatuagem que não é minha.

Como está sendo o começo de ano de vocês?
Ouvi dizer esses dias algumas pessoas falarem "Nossa! Esse ano está passando rápido!" e blá blá blá. Rápido? Não para mim. Tantas coisas aconteceram desde o primeiro dia do ano que me fez perder a noção do tempo. De repente abro os olhos e estou em Fevereiro. Meu Deus! Ainda em fevereiro? Mas aconteceu tanta coisa! Tanta coisa em um mês que não aconteceu em 1 ano na minha vida!

O meu final de ano, caso estejam interessados, foi bastante conturbado.
O que acontece é que nos últimos anos eu resolvi presentar meu corpo e minha alma com uma tatuagem. Na verdade eu não me "presenteei" com uma tatuagem, eu simplesmente a quis demais e de tanto querer isso foi se tornando uma necessidade. E assim foi, ela ficou lá, inerente à mim.

O tempo passou, os meses passaram e no começo deste ano a tatuagem começou a me fazer feridas. E as feridas cresceram. E sangraram. E sim, eu quase morri de hemorragia, e eu ainda teria de arrancar um pedaço da minha própria pele, pois nesse caso, não ia adiantar tirar a laser...eu realmente teria que arrancar um pedaço de mim. E ia doer. Eu sabia que ia doer, e eu JAMAIS contei com a hipótese de me desfazer dela, afinal, agora era parte de mim, oras.
E pouco a pouco, em meio à dor e ao sangue, comecei a me lembrar que a tatuagem não era parte de mim, era uma daquelas tatuagens que a gente cola igual adesivo, sabe? Mas eu havia me esquecido dessa parte fundamental da história. Eu havia me cegado. Então tive que começar a árdua tarefa de arrancá-la das minhas células. Pouco a pouco. Uma puxadinha a cada dia, uma dor a cada dia, e eu não conseguia arrancar tudo de uma vez. Como um band-aid. Mas no estágio final doíam tanto aquelas feridas, doíam tanto, que eu não tive escolha, tive de arrancar tudo num rápido puxão. E doeu tanto que achei que tinha arrancado um pedaço da minha pele, e doeu tanto que literalmente apaguei de dor. Meu cérebro não aceitou a realidade daquela dor, daquele momento.

Acordei. Um tempo depois. E é engraçado que ao mesmo tempo em que me senti esquisita, também me senti aliviada. Esquisita por ter arrancado de mim algo que conviveu tão intensamente comigo durante quase 2 anos, e aliviada porque não havia mais dor. Não teria como existir mais dor. Encontrei meu limite, mas não o obedeci. Dei-lhe um chute no saco e o ultrapassei, machucando-me ainda mais, prestes a ter uma infecção generalizada de corpo e alma, aprendendo que eu nunca mais devo ultrapassar meus limites e abafar minhas células com a cola nociva de uma tatuagem de plástico.

Passaram-se alguns dias e um dia, após o banho, olhei-me pela primeira vez no espelho sem a tatuagem. E aquela estranha olhou nos meus olhos como se tivesse encontrasse algo que estava perdido, como se estivesse pedindo para entrar de novo na casa que ela mesma deixou. E então eu a enxerguei mais detalhadamente, mais magra, cabelo mais curto, olheiras mais fundas, mas ainda assim, era ela. E então nós nos olhamos e eu me reconheci. E eu a abracei porque senti saudades. E eu a fiz prometer que nunca mais me deixaria por causa de mais nada, de mais ninguém.

Ela era minha, mas foi embora de casa porque não queria que eu me tatuasse.
Acalme-se! Não pretendo cometer o mesmo erro. - eu disse a ela.
Hoje, vida completamente nova, diferente, e eu morando com uma inquilina completamente diferente do que eu conheci quando era mais nova, mas ainda assim, a mesma pessoa, e melhor. Com a fome de seus sonhos ainda mais voraz.
Somos uma da outra e de mais ninguém! Foi assim desde o momento em que nascemos e será assim até o momento de nossa morte. E eu não posso me esquecer disso nunca mais. Eu não posso colocar mais ninguém à frente dela. E eu já sabia disso tudo, ou então, eu achava que sabia.
Por Deus. Eu a havia traído.
Mas ela ainda tem amor suficiente por mim para ter me perdoado.

9 Comments:

Thais said...

espero que vocês não se separem nunca mais né... é bom ver ela de volta também!!!! estava com saudades haha
bjo thata!! adorei ler esse texto!!

Thaty said...

E ela perdoou. Com certeza!
Adorei o texto! Lindo!

Beijos, Tha!
Vem passar uns dias comigo? ;)

Tha Basile said...

querida, que lindo isso tudo...

Tha Basile said...

Thaty, eu tbm quero passar uns dias com vc!!

Ane Talita said...

Lindo, lindo, lindo!

Jaya Magalhães said...

ADOREI a analogia do texto.

E adorei o blog também! Ainda não tinha visitado. Rs.

Agora virei sempre.

Um beijo a todas!
:*

KarinaK said...

Ei... EXCELENTE TEXTO!!!
Como vc mencionou no final, não se pode colocar nada a frente de nós mesmos... o amor pelo EU tem sempre q ser maior... =)
Não vale a pena "ter feridas", "sangrar", "ter uma hemorragia" por uma simples "tatuagem".
Boa escolha se livrar dela! ;)

M.E. said...

Eu quase que invejo esse amor doentiu. Quase que também quero saber como é essa loucura de amar tanto que chega a doer, que chega a doer muito... Isso de amar loucamente e fazer tudo intensamente é só pra quem pode, é só pra quem aguenta. Pessoas que amam demais, bebem demais, transam demais, escrevem demais, usam drogas demais, são loucas demais, atingem alturas e profundidades incomparáveis. Eles sabem o que é felicidade plena e o fundo do poço. Aí Deus deu essa pitada da loucura pras pessoas certas, como um dom.. aí elas escrevem maravilhosamente, compõe músicas belíssimas, pintam quadros que entram pra história, criam o avião, criam asas e voam... Thaís, vou ser muito franca contigo, minha doce amiga, você está quase à beira da loucura. Tudo o que vc tem a fazer é aproveitar isso! Um beijo com amor e dor, tal qual como deve ser.

Marina Cervini said...

Simplesmente maravilhoso...